quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Uma escolha, duas saídas

As horas passavam lentamente e a sensação de sufocamento dentro do meu peito apenas aumentava, segundo após segundo mais difícil ficava para respirar: o ar já não conseguia chegar aos pulmões com a mesma facilidade de sempre. O mormaço da casa abafada dava um ar sombrio ao cenário fatídico, o silencio instaurado no lugar incomodava ate mesmo os pobres peixinhos no aquário.
Marcas de lágrimas (ou seriam suor?) delatavam o grande erro que ocorreria caso não tivesse coragem para seguir em frente com tudo aquilo; a carta mal escrita, devido às mãos tremula com que havia escrito, encontrava-se ainda no mesmo lugar: em cima da cômoda da sala principal, bem visível a quem quer que chegue primeiro, a mulher ou os filhos!
A seriedade com que tomei aquela atitude tão ousada horas atrás, após ter recebido o envelope branco com a resposta aterrorizante que tanto temia, havia desaparecido e em seu lugar restava apenas o medo e a incerteza de estar tomando o melhor rumo para tudo isso.
O material necessário para dar cabo ao meu sofrimento já estavam devidamente posicionados: a cadeira, bem ao centro do minúsculo escritório, continuava paralisada debaixo do ventilador de teto; havia tempo ainda de dar uma ultima olhada pela casa, dando devida atenção a cada móvel, cada revista empilhada e a cada fotografia da família, essas em um súbito momento me trouxeram lembranças antigas, gostosas de recordar e difíceis de abrir mão, assim tão mesquinhamente como iria fazer...
Fui para minha posição “Tiradentes” tremendo de medo e de frio, a noite já chegava trazendo com ela estrelas tão brilhantes e uma lua que volta e meia se escondia por detrás das nuvens. Os olhos fechados imaginavam o futuro que me aguardava: a cadeira tremia tanto, vacilante ao ato que seguiria; de repente o ar fresco que vinha da rua invadiu os pulmões avassaladoramente, ejetando uma grande vontade de continuar vivendo ate que a doença permitisse!

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