Uma vez me disseram que um bom escritor é aquele que mesmo escrevendo uma obra fictícia, exprime a realidade do mundo. E falaram-me também que uma boa maneira de se começar a escrever é de retratar a nossa vida, o nosso cotidiano: escrever as crônicas da realidade!
Há uns três anos atrás estava no ônibus, quando me deparei com uma moça um pouco mais velha do que eu. Ela chamou-me muito a atenção, porque me lembrava alguém conhecido.
A moça demonstrava reconhecer-me também, todavia, havia em seu olhar um misto de decepção e vergonha. Aos poucos aquele rosto sem dono veio a ganhar um nome em meio as minhas lembranças de menina!
Então, lembrei-me dela, que aos olhos dos demais naquele ônibus não passava de uma simples e solitária mãe adolescente junto aos seus três filhos, mas que para mim costumava ser uma garota alegre e sorridente que há muito estudava comigo anos atrás.
No nosso bairro fazíamos aula de reforço, e na época eu cursava a primeira série enquanto ela devia de estar na segunda ou terceira série, confesso que já não me lembro em detalhes; há muito já não lhe via, ou sequer tinha notícias de sua parte, pois com o passar do tempo seguimos por caminhos diferentes, mas não imaginava o quão verdadeiro isso era.